Quem me acompanha há mais tempo por aqui e ou pelo canal no Youtube, já sabe do amor que nutro pela escrita da linda Inês Pedrosa, autora portuguesa que descobri em 2003 quando me deparei com maravilhoso "Fazes-me falta", seu romance de estreia no Brasil. E desde que soube do lançamento de seu último título em Portugal, fiquei em cólicas, torcendo pra que ele chegasse logo por aqui, o que só aconteceu em setembro de 2013. Comprei logo o meu, mas acabei protelando a leitura, no melhor estilo "felicidade clandestina", aguardando mais um pouco pelas surpresas e emoções que certamente sentiria ao ler mais esse romance dela.
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15 de abr. de 2014
14 de fev. de 2014
A elegância do ouriço - Muriel Barbery
Há certos livros que, antes mesmo de lermos qualquer coisa a respeito, temos a nítida e certa impressão de que se tornarão livros mega importantes em nossa vida. E devo dizer que, mesmo sentindo essa afinidade, acabei enrolando por 4 anos a leitura desse livro, porque tinha certeza de que ele mexeria muito comigo, e acredito que, inconscientemente, acabei esperando a hora certinha pra lê-lo. Sim, sou dessas que acredita que há uma hora certa pra tudo, até mesmo pra quebrar as regras, pra burlar a segurança e se desfazer de algumas amarras!
29 de set. de 2013
Deixa Comigo - Mario Levrero
Ao contemplar a capa do livro Deixa comigo, de Maria Levrero, me
senti logo atraída, sem saber ao certo se era o título, o laranja ou a
menção de que ele faz parte de uma coleção, a “Otra Língua”, onde são
publicados autores de língua hispano-americana, que há muito têm sido
ignoradas pelo mercado editorial brasileiro. Mas o que realmente me
motivou a trazê-lo pra casa foi a resposta que recebi do livreiro quando
o questionei se ele já o tinha lido ou não: "Ah, dei uma passada de
olho, mas pelo visto é sobre briguinha de ego de escritores e editor!";
achei tão simplista e pelo tom dele tão preconceituoso que acreditei
piamente que o livro fosse realmente melhor que isso.
Mais tarde, já em casa e com a leitura quase concluída, visitando alguns blogs, me deparei com uma resenha desse livro pela Camila Kehl, do Livros abertos, e, ao ler, fiquei imensamente feliz de
não ter levado à sério a crítica um tanto quanto negativa do livreiro
que me atendeu.
Deixa comigo, narra numa linguagem simples e
fluida as aventuras detetivescas de um escritor fracassado. Desesperado
por dinheiro, o protagonista, sem nome, com a promessa da possibilidade de lhe editarem um romance, aceita como missão buscar o
autor de um manuscrito de grande valor literário enviado, sem endereço de
remetente, a uma editora. Tem como únicas pistas sobre o misterioso
autor, o nome Juan Pérez e sua provável residência no vilarejo denominado Penurias, que tem como vizinhas as cidades de Misérias e Desgracias.
Em uma narrativa ágil, cômica acompanhamos as aventuras do narrador e suas lamentações sobre sua vida, o divórcio e a sua impotência, até que este se vê completamente apaixonado pela prostituta Juana. De capítulos curto é recheado de boas tiradas, uma pitada de humor negro e também algumas boas reflexões um pouco acima das entrelinhas.
Uma novela simples, direta mas que é extremamente eficaz ao que se propõe, que é o entretenimento com qualidade, deixando uma vontade de ler mais o autor e a pergunta no ar: porque só agora, depois de sua morte, Levrero finalmente chegou ao Brasil? De certa forma ele mesmo responde a essa questão em seu livro e no adendo, uma entrevista que Levrero faz consigo mesmo!
Imperdível, e que vontade de rir na cara do livreiro... rs
♥♥♥♥
Subtítulo: Coleção Otra Língua
Autor: Mario Levrero
Tradução: Joca Reiners Terron
Editora: Rocco
Ano: 2013
Páginas:160
Ano: 2013
Páginas:160
23 de ago. de 2013
Resenha: Por este mundo acima - Patrícia Reis
A escrita da portuguesa Patrícia Reis não me é estranha e já há muito me agrada. Minha primeira leitura dessa escritora, editora e jornalista portuguesa, foi do Morder-te o Coração, que foi editado aqui no Brasil pela editora Língua Geral, em sua coleção Ponta de Lança, que, como a Coleção Novíssimos da Leya, tem como objetivo apresentar a "safra" de autores portugueses contemporâneos. E sabedora da minha vontade de completar a belíssima coleção da Leya, a minha amiga querida, Tatianne Dantas, do blog e vlog No país das entrelinhas, me presenteou com o lindo Por Este Mundo Acima, que li há algum tempo, é fato, mas só agora acho que consigo realmente escrever sobre ele as minhas impressões acerca da leitura.
20 de ago. de 2013
Resenha: É isto um homem? - Primo Levi
Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer "infinito". Assim, opõe-se a esta realização o insuficiente conhecimento do futuro, chamado de esperança no primeiro caso e de dúvida quanto ao amanhã, no segundo. Assim, opõe-se a ela a certeza da morte, que fixa um limite a cada alegria, mas também a cada tristeza. Assim, opõem-se as inevitáveis lides materiais que, da mesma forma como desgastam com o tempo toda a felicidade, desviam a cada instante a nossa atenção da desgraça que pesa sobre nós tornando a sua percepção fragmentária, e, portanto, suportável."
19 de ago. de 2013
Resenha: Orgulho e Preconceito - Jane Austen
Falar que ler Jane Austen é um bálsamo para as minhas crises já é chover no molhado por aqui, bem como dizer que guardo suas obras para os momentos de carência de finais felizes, rs. E com Orgulho e Preconceito foi um pouco diferente; comecei a ler depois de ter sido muito motivada por algumas meninas do Grupo Vlogueiros e Blogueiros Literários Sensuais, mas diferentemente dos outros livros da Jane, a leitura desse não fluiu de cara, mas tudo por conta da minha edição, que é esta da Best Bolso e veio com muitos erros de português e de editoração. Mas a partir do momento que deixei de me aborrecer com os erros foi mais fácil penetrar nesse mundo que Jane Austen desnuda tão bem.
6 de ago. de 2013
Resenha: Inferno - Dan Brown
“No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”.Dante Alighieri
Sim, eu gosto muito da série do Dan Brown que nos presenteia com as aventuras do Professor de Simbologia e História da Arte, Robert Langdon. Sei que muita gente reclama, fala que o Dan Brown tem um esquema para seus livros, que usa sempre a mesma fórmula, blá blá blá... Que seja, funcionou muito bem até agora!
24 de jul. de 2013
Resenha: O Oceano no fim do caminho - Neil Gaiman
Há alguns anos que vivo mergulhada em um encantamento alheio pelos feitos de Neil Gaiman. Mas o meu mergulho se dá ainda mais fundo quando ouço falarem de Sandman. Mas ainda não li, já que resolvi que só farei a leitura no dia em que estiver com os 3 volumes definitivos dessa obra, o que, infelizmente vai demorar um pouco. Mas quebrei o encanto no final do ano passado ao ler meu primeiro Gaiman: Coisas Frágeis 2 e mesmo diante de um certo estranhamento gostei muito da leitura.
Estava prestes a começar a me embrenhar pelos caminhos de Lugar Nenhum quando me caiu nas mãos o e-book O Oceano no fim do caminho. Fiquei relutante em ler, já que muitas das minhas leituras desses dois últimos meses não fluíram, mas assim que o comecei, não quis mais parar...
9 de jul. de 2013
Resenha: AvóDezanove e o segredo do soviético - Ondjaki
Eu não me recordo bem, quando fiz a minha lista de autores para ler em 2013, se inclui ou não o autor angolano Ondjaki. Se não, hoje me sinto feliz de o ter lido, mesmo sem listas e ou lembranças.
Na verdade estou com o nome de Ondjaki a me rodear desde o ano passado, quando comecei a seguir alguns blogs e vi alguns de seus livros sendo bem citados, como Bom dia, camaradas, Os da minha rua e Se amanhã o medo, todos títulos que quero muito ler, mas calhou que o primeiro livro desse angolano jovem, de apenas 33 anos, a cair em minhas mão fosse AvóDezanove e o segredo do soviético.
6 de jul. de 2013
Resenha: Balzac e a costureirinha chinesa - Dai Sijie
Tive acesso às letras do Dai Sijie através do filme Balzac e a costureirinha chinesa, que ele mesmo roteirizou e que me fez suspirar com tanta poesia e amor. Adorei as locações do filme e toda a poesia colocada no amor aos livros, na amizade e no romance da tríade de amigos. Então, nada mais natural, que ter ficado felicíssima ao descobrir que o filme fora baseado no livro do próprio Dai Sijie, e que, ainda por cima, tem um certo cunho autobiográfico, já que o mesmo foi enviado para a reeducação nos campos chineses no período de 1971 à 1974, e depois, após ter ganho uma bolsa de estudos na França, é que fixou residência no país.
26 de jun. de 2013
Resenha: Norwegian Wood - Haruki Murakami
Por mais que tenhamos as convenções sociais, as idiossincrasias
pertinentes a cada um, jamais seremos uma ilha. E não há nada que aconteça ao
outro, quanto mais ele esteja próximo a nós, que não reflita em nós mesmos. E
essa questão, bem como a leitura de Norwegian Wood, do japonês Haruki Murakami,
me fez lembrar um dito de John Donne:
Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
1 de jun. de 2013
Resenha: O último vôo do flamingo - Mia Couto
Mais uma vez me pego diante de um livro do escritor moçambicano Mia Couto que de uma forma excepcional me arrebatou, me tirou do chão duro da minha realidade e me transportou para outra realidade igualmente dura, entretanto cheia de poesia, neologismos e um amor à nação, à humanidade que parece nunca findar. Não é à toa que só agora, depois de um certo tempo que o li, que consigo parar para tentar achar um pouco de coerência e tentar passar um pouco do muito que o livro O último vôo do flamingo, me impressionou.
26 de mai. de 2013
Resenha para discussão em fórum: A Morte de Ivan Ilitch - Lev Tolstói
Quando soube que o tema da
discussão do Fórum Entre Pontos e Vírgulas para maio seria literatura russa eu
já vibrei, pois adoro, e gostei mais ainda quando o meu eleito ganhou a votação.
O livro escolhido foi “A Morte de Ivan
Ilitch”, de Tolstói. É uma novela breve,
profunda, além de uma enorme lição sobre a vida e a morte, e a frágil condição
humana.
A novela narra os últimos meses
de vida do personagem que dá nome ao livro; Ivan Ilitch, um burocrata burguês, juiz
e membro de uma corte de apelação da província que é acometido, depois de um acidente doméstico e aparentemente trivial, de um mal que o faz sofrer física e moralmente. Mesmo sabendo de sua morte, já anunciada no título, nada nos faz antever o que virá de suas reflexões acerca da vida e da eminente morte que o cerca.
3 de mai. de 2013
Resenha: No meu peito não cabem pássaros - Nuno Camarneiro
“Jorge tem medo de encher a cabeça. Uma frase ouvida muitas vezes ao aos adultos inquietou-o, “a cabeça não chega para tudo”. Jorge espantou-se com medo de não ter mais onde pôr coisas de que gostava, nunca pensara na cabeça como um bolso e agora concluiu que as memórias são grandes e não ocupam muito espaço. A cada dia, a cada hora, há gente a entrar pelos olhos e pelos ouvidos, por todo lado há gente a encher cabeças com palavras e gestos. As pessoas não têm respeito pelas cabeças e por isso enchem-nas sem critério de coisas importantes e porcarias. O pior é que as cabeças não sabem distinguir o que interessa nem esquecer o que não querem. Para lá fica tudo amontado, tão cheio e sem arrumo que nada se encontra que sirva. (…) Assim, Jorge desenvolveu um sistema para ter as memórias fora da
23 de abr. de 2013
Resenha: Acabadora - Michela Murgia
Nascimento e morte, ação e reação, acasos e destino, fé e a falta dela, tradições e crenças, e tudo isso sobre solo italiano, mais especificamente o da Sardenha, fez com que eu elevasse, e muito, as minhas expectativas acerca do Acabadora, primeiro livro da autora italiana Michela Murgia a ser editado no Brasil
A escrita de Michela é mais emotiva que poética, e flui em suas descrições detalhadas de algo que conhece tão bem, e de onde também veio, que é a região da Sardenha, sua cultura e seu povo.
No início dos anos cinquenta em Soreni , uma pequena vila fictícia na Sardenha, onde todos sabem tudo sobre todos e passam os dias fingindo não saber, a pequena Maria Listru, a última e indesejada das quatro irmãs orfãs, é adotada por Bonaria Urrai, uma viúva rica, mas sem nunca ter se casado. Maria torna-se uma "filha d'alma,
É assim que se chamam as crianças geradas duas vezes, pela pobreza de uma mulher e pela esterilidade da outra. Maria Listru era filha desse segundo parto, fruto tardio da alma de Bonaria Urrai.
Maria e Bonaria, que apesar de rica é a costureira da aldeia, vivem como mãe e filha. E nos primeiros 17 capítulos do livro vamos seguindo os passos e o crescimento da pequena Maria, que aos poucos percebe que há alguns segredos em volta da sua nova mãe, ainda mais quando ela se veste de preto para suas saídas noturnas; no entanto é notável o quanto a velha Bonaria se esforça para manter seus segredos e como a pequena Maria, espertar e curiosa, se permite ficar alheia aos acontecimentos.
Graças ao narrador onisciente, nós podemos logo perceber as características mais marcantes de Bonaria Urrai, mas é muito interessante acompanhar as dúvidas e desconfianças distantes de uma criança que vai aprendendo a confiar e amar essa segunda mãe tão inesperada e diferente da primeira, com seus carinhos retraídos, sua preocupação em educá-la bem e seus segredos.
O próprio vilarejo e seus moradores se fazem personagens do romance. Eles acompanham as histórias de todos, seus rumores e calúnias. A própria Bonaria diz que perdeu o noivo, tornando-se uma viúva de guerra; há ainda os conflitos entre donos de terra, cada um arrastando, com ou sem feitiços, suas cercas pro lado que interessam; a dificuldade em fazer as crianças aprenderem o italiano, já que só falam o dialeto sardo; as carpideiras, mulheres pagas para chorarem o morto em seus lúgubres e cantados funerais; o Luto oficial e o lamentar sobre os mortos e a tradição da portas das casas permanecem abertas na noite de 01 de novembro para receber as almas que vagam, a ânsia por vingança de Nicola Bastiú e relação de amizade entre Maria e Andrían; o despertar dos primeiros amores, e as famílias em desespero que clamam pela acabadora.
Falar sobre eutanásia hoje não é fácil, e Michela nos mostra que, mesmo em meio às suas tradições, e em 1950 também não era; e eu acredito que nunca será. É um assunto extremamente delicado que mexe com um numero x de questões que não quero discutir aqui. É por toda essa efervescência de assuntos e motes, de personagens interessantes e densos, que achei que o romance não foi tão bem trabalhado, ou que a autora tenha se permitido pudores a mais para falar de sua terra natal. Imaginei que o mote da acabadora fosse ser mais explorado, mas não, ficou tudo no âmbito do aceitável, do tocante entendimento, e uma sensação de que faltou a cereja do bolo! Pois só o cenário, uma vila católica, durante o pós guerra, já é mote suficiente pra muita entrelinha e linhas expostas.
Mas enfim, é um livro bom sim, sutil, emocionante e poético em muitas partes, mas que tinha tudo para ser ótimo e não foi ou eu é que não alcancei a profundidade necessária de suas linhas e entrelinhas!
♥♥♥
Título: Acabadora
Autora: Michela Murgia
Editora: Alfaguara
Tradução: Frederico Carotti e Denise Bottmann
Nº de páginas: 160
15 de abr. de 2013
Resenha: Primavera num espelho partido - Mario Benedetti
"Apesar de tudo, o corpo é mais adaptável do que o espírito. O corpo é o primeiro a se acostumar aos novos horários, a suas novas posturas, ao novo ritmo de suas necessidades, a seus novos cansaços, a seus novos descansos, a seu novo fazer e a seu novo não fazer."
Quando eu era criança e já conseguia perceber com um pouco mais de discernimento a realidade das coisas, eu ficava em êxtase quando minha mãe nos reunia à mesa do jantar para nos comunicar que nos mudaríamos mais uma vez e em breve, que o papai tinha sido novamente transferido e que só esperaríamos as férias chegarem, o que geralmente era coisa de uns 30 a 20 dias antes da mudança. Mas com o passar do tempo e muitas despedidas depois, esse êxtase foi se transformando, pouco a pouco, na consciência de que o adeus muitas vezes é para sempre e que ele dói tanto quanto se sentir sem raízes.
Assim que comecei a ler Primavera num espelho partido, do uruguaio Mario Benedetti, soube imediatamente que não sairia imune dele. Ainda mais depois de ler o capítulo intitulado Don Rafael (Derrota e rota).
O essencial é adaptar-se. (...)Nem todos tem um exílio próprio. A mim quiseram empurrar um alheio. tentativa inútil. Transformei-o em meu. Como foi? Isso não importa. Não é um segredo nem uma revelação. Eu diria que é preciso começar apoderando-se das ruas. Das esquinas. Do céu. Dos cafés. Do sol, e o que é mais importante, da sombra. É somente quando alguém chega a perceber que uma rua não lhe é estrangeira que a rua pára de vê-lo como um estranho. E assim com todo o resto.
E sim, durante muitos anos considerei-me uma exilada, mesmo sem saber do termo e muito menos seus significados...
Mario Benedetti, poeta, escritor e ensaísta uruguaio foi-me apresentado, como já citei aqui, pela Denise Mercedes do blog e vlog Meus Olhos Verdes, e com apenas dois livros lidos já tinha se tornado um dos meus queridos, agora posso afirmar que além de querido é um dos meus autores reconfortantes!
Em Primavera num espelho partido, romance de 1982 e lançado no Brasil somente em 2009, Benedetti nos narra uma história de saudades, exílios, amores, dramas, sonhos, separações, culpas e uma boa dose de política. É também uma história com tons autobiográficos, já que, como um dos personagens de sua ficção, o escritor também esteve, por 12 anos, exilado em outros países, entre eles Peru, Argentina, Cuba e Espanha, devido a sua posição e opiniões políticas no período da Ditadura Uruguaia.
O romance é construído a partir de seis vozes narrativas que, em pequenos capítulos, revelam, aos poucos, a história e seus personagens. Santiago, o homem culto e ativista politico, que foi preso e torturado e já está preso há mais de 4 anos. Graciela, sua mulher, também tem de exilar-se com a filha, Beatriz, e o sogro, Dom Rafael e que, para sobreviver, trabalha como secretária tentando levar adiante sua vida da melhor maneira possível. Os capítulos são apresentados em cinco perspectivas diferentes: as cartas que Santiago escreve à sua mulher da prisão. O cotidiano de Graciela e a sua labuta para criar a filha do casal. O monólogo de Dom Rafael. A perspectiva de Rolando Austero, amigo de Santiago e da família. As redações da pequena Beatriz. E os capítulos em que, sem ter relação direta com a história, narram em primeira pessoa as experiências do próprio Benedetti no exílio.
Apesar de ter formado com Santiago um casal perfeito, Garciela percebe que o tempo e a distância os afastam, e que ela, de tanto viver longe, já não precisa mais dele. Em contrapartida, no claustro é como se o tempo tivesse parado para Santiago, que cultiva o sonho de, ao sair da prisão, retomar sua vida, encontrar as pessoas, ou ao menos os sentimentos, do mesmo jeito que as deixara ao ser preso.
O título ainda carrega a força política, pois refere-se à Ode a primavera, de Pablo Neruda, poema cuja metáfora se refere à justiça social; além de uma bela justificativa poética, que veremos nas indagações de Santiago ao final do romance, e também a vemos quando Don Rafael nos fala dela, ao lembrar seu relacionamento com a esposa já falecida:
“Quando tínhamos apenas dois anos de casados, em um dos seus infreqüentes impulsos de confidência, que eram como uma concessão que nos fazia às vezes (a ela e a mim), disse que bom seria morrer ouvindo alguma das Quatro Estações, de Vivaldi. E muitos anos depois, exatamente em dezessete de junho de mil novecentos e cinqüenta e oito, quando estava lendo e de repente ficou imóvel para sempre, no rádio (não era sequer um toca-discos) estava tocando a Primavera. Santiago ficou sabendo e talvez por isso essa palavra, primavera, tenha se ligado para sempre à sua vida. É como o seu termômetro, seu padrão, sua norma”…
De todos os personagens do livro Santiago é o mais otimista e crédulo, acredita em seus sonhos e se mantém vivo e incorruptível por ele. É a personagem que mais tive vontade de colocar no colo e afagar. Se bem que sua filha, Beatriz, é o melhor contrapeso que um escritor poderia ter utilizado. Nela podemos ver a perplexidade de uma criança atenta, inteligente e que questiona, racionaliza, mesmo quando se perde e confunde com a linguagem, como no episódio que confunde "poluição" com "polução", é realmente muito bom, uma dose extra e fina de humor! E o que dizer dela quando fala de liberdade:
“Liberdade quer dizer muitas coisas. Por exemplo, se você não está presa se diz que está em liberdade. Mas meu pai está preso e no entanto está em Liberdade, pois é assim que se chama a prisão onde está há muitos anos… Meu pai é um preso, mas não porque tenha matado ou roubado ou chegado tarde à escola. Graciela diz que meu pai está em Liberdade, ou seja, preso, por suas idéias. Parece que meu pai era famoso por suas idéias. Eu também tenho idéias, às vezes, mas ainda não sou famosa. Por isso não estou em Liberdade, ou seja, não estou presa… De forma que liberdade é uma palavra enorme. Graciela diz que ser um preso político como meu pai não é nenhuma vergonha. Que é quase um orgulho. Por que quase? É orgulho ou é vergonha? Gostaria que eu dissesse que é quase vergonha? Estou orgulhosa, não quase orgulhosa, de meu pai, porque teve muitíssimas idéias, tantas e tantas que foi preso por causa delas. Acho que agora meu pai vai continuar tendo idéias, idéias espetaculares, mas é quase certo que não fale sobre elas com ninguém, porque se falar, quando sair da Liberdade para viver em liberdade, podem fechá-lo outra vez na Liberdade. Estão vendo como é enorme?”.
Não há como mensurar a dor que cada tipo de exílio pode causar, muito menos apagar as cicatrizes por eles deixadas, mas Benedetti ainda nos traz mais uma questão que é a do "desexílio", palavra inventada por ele para se referir ao processo de readaptação dos exilados ao voltar para casa. Como será o fim desse inverno, será que Santiago terá razão?
Acredito que o escritor Julián Fucks, ao falar de si mesmo, fecha com chave de ouro a questão levantada por Benedetti e também às que ainda teimam em bailar em meu coração:
…depois desses cinco anos de inverno ninguém vai me roubar a primavera…
A primavera é como um espelho mas o meu está com a ponta quebrada/era inevitável não ia sair inteirinho desse bem nutrido qüinqüênio/mas apesar da ponta quebrada o espelho serve a primavera serve…
“EU ERA UM MENINO, MEUS PAIS ESTAVAM CANSADOS DO EXÍLIO, QUERIAM RECOBRAR SEU PAÍS: TIVE QUE ME INVENTAR ARGENTINO. ME LIVREI DAS ROUPAS FESTIVAS, DA MOLEZA DA LÍNGUA, DEIXEI O CABELO MAIS COMPRIDO. NÃO ADIANTOU: PARA ELES, FUI SEMPRE UM ARGENTINO PRECÁRIO, UM BRASILEIRO ENRUSTIDO. QUANDO VOLTEI, ESTAVA FELIZ. RECUPERARIA MEU EU ANTIGO. TRISTE ILUSÃO: FUI TAMBÉM UM BRASILEIRO FALSO. ALGUÉM, TALVEZ EU MESMO, SEMPRE ME QUIS O OUTRO QUE EU JAMAIS SERIA.”
Primavera num espelo partido
Mario Benedetti
Trad.: Eliana Aguiar
Alfaguara
224 págs.
Esta resenha também faz parte do Desafio Literário 2013, cujo tema é referente ao mês de abril: Estações
do ano no título da obra.
14 de abr. de 2013
Resenha: O Ano da Leitura Mágica - Nina Sankovitch
"As pessoas compartilham os livros que amam. Elas querem espalhar para os amigos e familiares a sensação boa que sentiram ao ler o livro ou as idéias que encontraram nas páginas deles. Ao compartilhar um livro amado, um leitor está tentando compartilhar o mesmo entusiasmo, prazer, medo e ansiedade que experimentou ao ler. E porque mais o fariam? Compartilhar o amor pelos livros ou por um livro específico é uma boa coisa. Mas é também uma manobra arriscada para ambos os lados. Quem dá o livro não está exatamente expondo a alma para uma rápida olhada, mas quando o entrega com o comentário de que é um de seus preferidos, está muito próximo de expô-la. Somos aquilo que gostamos de ler e quando admitimos que adoramos um livro, admitimos que este livro representa verdadeiramente algum aspecto do nosso ser, seja o fato de sermos loucos por romance, ou por aventura, ou secretamente fascinados por crimes."
Desde criança sempre fui muito curiosa e ávida por saber. Não tinha pretensões de saber tudo, mas queria sim, como ainda quero, saber um pouco sobre tudo, ou quase tudo. Lembro-me que com 4 anos eu já arriscava algumas palavras, aos 5, alfabetizada, deixava minha mãe louca quando saia com ela à rua, pois queria ler tudo, parava à todo instante pra ler as placas de trânsito, propagandas pregadas nos muros, enfim, o que fosse combinações de letras eu queria ler!
Com o passar dos anos fui aprendendo que poderia fazer viagens muito mais interessantes do que as mudanças a que meu pai nos obrigava a fazer todo ano, devido ao seu trabalho. Nessas novas viagens eu tinha a certeza de que os amigos que faria ficariam comigo e que eu os poderia revisitar sempre que tivesse vontade. Tudo bem que alguns deixei no passado, outros nem mais me recordo e alguns, ah, como me fazem falta...
A leitura sempre foi, pra mim, algo muito mais que prazer, muito mais que lazer e diversão, ultrapassou o sentido de arte, abarcou a terapia e além de tábua de salvação, também foi minha madrinha, me levando a querer arriscar a me deixar traduzir em palavras.
Em O Ano da Leitura Mágica, Nina Sanckovitch faz um relato autobiográfico de como conseguiu superar a morte de sua irmã mais velha Anne Marie, que aos 46 anos descobre um câncer já em fase terminal. A princípio ela tenta superar a dor e a falta da irmã sendo o porto seguro de quem está a sua volta: seus pais, marido, irmã caçula, os 4 filhos e amigos. Mas depois de 3 anos se dá conta de que não consegue além de estar emocionalmente esgotada.
Então, depois de admitir pra si mesma que não conseguia viver plenamente a sua vida e nem a parte que caberia à Anne Marie, Nina resolve se voltar para uma paixão em comum com a irmã e o restante da família: os livros!
“Livros. Quanto mais eu pensava em parar e voltar a ser uma só pessoa sã, mais eu pensava nos livros. Eu pensava em fugas. Não correr para fugir, e sim ler para fugir.”
Entre as suas leituras muitas que não são nem de longe nossas conhecidas, no entanto há muitos autores e livros já editados no Brasil, como os lindos Mia Couto e José Eduardo Agualusa, kasuo Ishiguro, Stephenie Meyer, Tolstoi, Roberlo Bolaño, Camus, Saramago e muitos outros, muitos mesmo! O livro é recheado de citações e paralelos que a autora traça entre os livros e a sua própria vida.
É bem gostosa a leitura até metade do livro, depois fica um pouco cansativa, com seu teor mudando um pouco de foco, partindo mais pro cunho de auto-ajuda, e confesso que o fato dela ficar repetindo sempre o jargão de "ler um livro por dia durante um ano" me cansou um bocado! Mas a leitura é fácil e a gente se emociona com o claro amor que ela tem aos livros, a sua paixão em compartilhar com amigos e família, enfim, é um livro pra se ler, e pra ter onde buscar algumas inspirações, já que Nina nos deixa de presente, no final do livro, a sua lista de livros lidos no período de um ano! ;oD
♥♥♥
"Eu assumi o compromisso de passar um ano lendo por um motivo. Porque as palavras são testemunhas da vida: elas registram o que aconteceu e tornam tudo verdade. Palavras criam histórias que se transformam em histórias inesquecíveis. Histórias sobre as vidas relembradas nos levam para o passado ao mesmo tempo em que nos permitem seguirmos em frente."
Título Original: Tolstoy and the Purple Chair
Autora: Nina Sankovitch
Tradução de Paulo Polzonoff
Editora leya
230 páginas
Autora: Nina Sankovitch
Tradução de Paulo Polzonoff
Editora leya
230 páginas
12 de abr. de 2013
Resenha: Teoria Geral do Esquecimento - José Eduardo Agualusa
"Os dias deslizam como se fossem líquidos. Não tenho mais cadernos onde escrever. Também não tenho mais canetas. Escrevo nas paredes, com pedaços de carvão, versos sucintos. Poupo na comida, na água, no fogo e nos adjetivos"
Há cerca de um ano ouvi o nome Agualusa pela primeira vez, e por ele só, mesmo isolado do José Eduardo, me encantei. Li uma resenha da Juliana Gervason [sim mais uma vez ela! ;o)] sobre o livro Teoria Geral do Esquecimento e por si só bastou para eu ficar ensandecida atrás. Não tinha sido ainda lançado no Brasil, mas assim como a Juliana, depois de um bom tempo, consegui a cópia digital e aí começou o meu sofrer.
Sem e-reader, a minha única opção era lê-lo no notebook, mas, apesar dos meus esforços, não rolou! Extremamente desconfortável, eu não consegui me concentrar e achei melhor para para não desmerecer a obra, o autor e a mim. Mas qual não foi a minha surpresa ao saber que o livro já tinha chegado à nossa terrinha tupiniquim! Saí correndo atrás e bingo, fiz meu pedido pela Saraiva Online... Depois de mais de 10 dias sem o meu pedido ser ao menos faturado e eu já completamente desiludida, cancelei a compra e procurei me resignar, ao menos por mais um tempo. Tentei acreditar que realmente não era a hora ler o já tão querido "TGE".
No entanto, a primeira coisa que fiz depois que adquiri o Kobo, foi pegar o bichinho para ler, finalmente, Teoria Geral do Esquecimento! E como foi perfeito! Tentei prolongar ao máximo a leitura, mas ele é tão bom e tão fininho que, mesmo com todos os meus esforços, chegou ao fim. Fiquei abraçada ao kobo, meio que sorrindo e chorando por algum tempo e uma sensação tão boa no coração! ♥
Concebido primeiramente como roteiro para um filme, e só depois que o projeto não seguiu adiante é que o autor resolveu desenvolvê-lo como romance; TGE é uma ficção com um contexto histórico real, justamente pelo fato de que Agualusa se aproveita da existência dos diários de Ludo, que sim, era real, narrando os 28 anos de seu enclausuramento, como mote para o romance; no entanto, ele mesmo alerta para o fato de que tudo o mais no livro é ficção.
E o romance é, assim, tecido pelas hábeis mãos de Agualusa pelos caminhos da imaginação, da vida real e da vida coletiva de Angola, desde a independência até os dias de hoje.,
Dentre tudo o que posso dizer sobre TGE, é que é um livro que fala sobre memória e esquecimento, sobre pessoas que foram esquecidas e outras que desejam arduamente serem esquecidas, e ainda da reconstrução de si mesmo.
Há vários outros personagens e aventuras no livro, que são aparentemente díspares mas que vão se conectando à história com uma exatidão incrível! E o melhor é que em Teoria Geral do Esquecimento não cabe, por mais que se queira pensar nele, o discurso maniqueísta. O autor trata de pessoas e suas complexidades, ainda mais numa fase de turbulências políticas e violências sociais. Já não importa quem são os bons e os maus, quem vai ou não para o inferno, no final, são todas pessoas...
A escrita de José Eduardo Agualusa não é poética, no entanto nos enlaça com suavidade, nos entregamos às suas palavras com puro deleite, porque é o que recebemos dele, mesmo diante de cenas fortes, ele sabe nos conduzir com doçura!
♥♥♥♥♥
Mas no Brasil ele foi editado pela Editora Foz:
E se quiser saber um pouco mais sobre esse autor incrível, leia a entrevista que ele deu à Juliana lá n'O batom de Clarice, simplesmente imperdível!
7 de abr. de 2013
Resenha: Razão e Sensibilidade - Jane Austen
Há situações e momentos em nossa vida que tudo parece dar errado, as nossas tragédias pessoais se sucedem, tantas vezes, numa profusão que nos deixa à beira de desacreditar de tudo o mais, inclusive do amor, da esperança e da felicidade. Eu havia decidido me afastar um pouco da literatura que me fizesse ter algum tipo de catarse, de reencontro com as minhas pequenas e grandes tragédias pessoais.
Permiti-me um período sabático, eu diria, onde a vida também me daria uma pausa...
Mas as coisas e a vida não funcionam assim, e quando você menos espera, uma parte ínfima de um enredo lhe faz transbordar, porque lhe remete bem ao cerne das suas fugas. Quando menos se espera, uma personagem lhe passa a perna e você mergulha de novo, e com ela, em toda a sua dor antiga e escondida.
É por isso que hoje não fujo mais, desisti depois que passei por livros como O Outro pé da sereia, do Mia Couto; Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, do Marçal Aquino, O Sentido de um fim, do Julian Barnes; O Sonâmbulo Amador, do José Luiz Passos; e recentemente Teoria geral do esquecimento, do José Eduardo Agualusa. Porque nenhuma fuga adianta, as emoções surgem quando menos esperamos, independente de que estejamos com nosso corpo se defendendo ou não.
E como toda boa romântica, eu sempre busquei refúgio em finais felizes, porquê não? Mas ao mesmo tempo nunca gostei de romances melosos, e quando conhecei Jane Austen adentrei no meu paraíso particular de recuperação emocional! Jane é considerada uma das personalidades literárias mais influentes da Inglaterra, depois, apenas, de Shakespeare! Tanto que esse ano seu romance Orgulho e Preconceito completa 200 anos de publicação e foram feitas milhares de homenagens em toda Inglaterra e pelo mundo.
Toda a obra de Jane Austen se centra em aspectos cotidianos e aliados à vida real; é uma comédia de costumes, onde ironiza e critica a sociedade de costumes da época e ainda trazem uma mensagem instrutiva, sempre falando do bom comportamento. Seus personagens crescem e amadurecem ao longo da obra, adquirindo o que mais precisam, seja em termos morais e até mesmo materiais.
Em Razão e Sensibilidade, ou Razão e Sentimento, Jane nos contará a história de duas irmãs: Elinor e Marianne Dashwood que são jovens, bonitas, inteligentes, instruídas e totalmente diferentes uma da outra no que tange aos sentimentos, à exposição dos mesmos e como reagem às situações impostas pela vida.
Após a perda do pai as meninas e a mãe, além de uma irmã caçula, vêm-se à mercê da boa vontade do irmão mais velho e filho do primeiro casamento do Sr. Dashwood, e do egoísmo e mediocridade da cunhada. Acabam deixando a propriedade onde nasceram e que tanto amam, e vão viver num pequeno chalé que alugam de um primo da Sra. Dashwood.
Elinor se descobre apaixonada e correspondida ainda em Norland, enquanto Marianne só descobre a paixão depois da mudança. Ambas não falam claramente sobre o que sentem, mas cada uma se expressa e demonstra esse amor e paixão de maneira totalmente diferente. Enquanto Marianne é totalmente arrebatada pelas sensações e pelas artes, e se deixa vislumbrar em toda essa clareza, é ainda imparcial e falta-lhe polidez ao lidar com as pessoas quando essas não correspondem às suas altas expectativas; já Elinor é comedida, sempre tem um olhar voltado ao bem estar do outro, é a mulher mais racional da casa, apesar dos seus parcos 19 anos, além de ser totalmente diplomática.
Tudo em Razão e Sensibilidade é sutil, apesar de acharmos algumas coisas óbvias, como o próprio título, ao tentarmos encaixar as irmãs nele. Mas tanto a razão quanto a sensibilidade, a meu ver, permeia todas as personagens, e o que as diferencia é justamente na demonstração desses sentimentos.
E mais uma vez Jane Austen me eleva, me conduz a esse meu paraíso, mas não sem antes me fazer recordar do quanto já estive Marianne e o quanto de Elinor há hoje em mim.
Jane será sempre meu porto feliz para dias de chuva e tempestades emocionais! ;oD
♥♥♥♥♥
E pra quem não resiste a um bom filme, fica a dica do excelente Razão e Sensibilidade, dirigido por Ang Lee em 1996, com Emma Thompson, Kate Winslet, Hugh Grant.
Título: Razão e Sensibilidade
Autora: Jane Austen
Editora: BestBolso
Número de páginas: 399
27 de mar. de 2013
Resenha: Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
“Queime tudo, queime tudo. O fogo é luminoso e o fogo é limpo.”
Tantas foram as vezes em que tive a oportunidade de ler esse livro e deixei passar...
Tantas foram as pessoas que o indicaram e eu permaneci alheia a ele...
Mas dentre tantas leituras novas, não me concedi o direito de continuar a deixar de encará-lo... E agora sei que fiz muito bem!
O romance foi escrito após a Segunda Guerra Mundial e se passa numa América do futuro, totalmente hedonista, anti-intelectualizada, uma sociedade totalitarista onde se queimam livros, o pensamento crítico foi habilmente desestimulado e extirpado e quem tem opiniões próprias são tidas como, no mínimo, pessoas antissociais.
Nessa sociedade, quase tudo está fora de controle, pessoas se divertem dirigindo à alta velocidade pelas ruas, sendo violentas e agressivas umas com as outras e uma minoria [seja ela qual for] é quem dita o politicamente correto e pode denunciar livremente o que lhe incomoda. Em casas há muito construídas com um eficaz sistema anti-incêndio, vivem cercadas por telas e interagem com as "famílias", personagens de programas, seriados que praticamente anula a convivência real entre as pessoas. Nessa sociedade os bombeiros ainda existem, mas com uma nova função: a de queimarem livros, o que fazem com um prazer orgasmático!
E é assim que o romance começa, com Guy Montag, o protagonista da história, bombeiro, assim como seu avô e pai, relatando o seu prazer em incendiar livros. Mas a trama toda se modela justamente quando Guy conhece a adolescente Clarisse McClellan, uma jovem de pensamento livre, questionadora, feliz com os pequenos prazeres diários e há muito esquecidos. É Clarisse que o leva pelas mãos, como se fosse a serpente no paraíso, e abre a ele os caminhos para a busca do que é o verdadeiro conhecimento e a real felicidade.
“Todos devemos ser iguais. Nem todos nasceram livres e iguais, como diz a Constituição, mas todos se fizeram iguais. Cada homem é a imagem de seu semelhante e, com isso, todos ficam contentes, pois não há nenhuma montanha que os diminua, contra a qual se avaliar. Isso mesmo! Um livro é uma arma carregada na casa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Façamos uma brecha no espírito do homem.”
Depois de alguns encontros com Clarisse Montag muda nitidamente, ao ponto de questionar a real natureza do seu casamento com Mildred, que, por mera distração com suas telas, não percebe estar tomando todo um frasco de medicamento, levando o marido a chamar uma equipe "médica" que, com uma máquina, irá filtrar todo o sangue dela e permitindo-a que continue viva e sem lembranças do que ocorreu.
A partir do questionamento de ser ou não feliz, Montag envereda por outros, como o que pode haver nos livros que os tornam tão desnecessários e tão perigosos. E durante a narrativa vamos sendo apresentados a outros personagens igualmente importantes, como Beatty, chefe dos bombeiros, um homem intrigante, capaz de citar grandes autores e apregoar a sua periculosidade da mesma forma que acende seu cachimbo.
Há também o professor Faber, que é quem o esclarece sobre o verdadeiro potencial dos livros:
“Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas.”
O livro é narrado de forma fluida e o é dividido em três partes: 'A Lareira e a Salamandra', 'A Peneira e a Areia' e 'O Clarão Resplandecente'.
Com um texto que condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas principalmente o cenário político-econômico dos anos 1950, Fahrenheit 451 revela a apreensão de uma sociedade opressiva e comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra. Além também de ser uma crítica super atual, onde cada vez mais as pessoas se alienam, claro, com a cumplicidade e atuação maçante do nosso estado, onde a diverção e a interação através das telas [tvs, celulares, tablets e afins].
Com um texto que condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas principalmente o cenário político-econômico dos anos 1950, Fahrenheit 451 revela a apreensão de uma sociedade opressiva e comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra. Além também de ser uma crítica super atual, onde cada vez mais as pessoas se alienam, claro, com a cumplicidade e atuação maçante do nosso estado, onde a diverção e a interação através das telas [tvs, celulares, tablets e afins].
Fahrenheit 451 é a exata temperatura que o fogo atinge ao queimar um livro, ou 233ºC.
“Agora, inalando toda noite para dentro de sua boca aberta e exalando-a pálida, com todo o negror que lhe restava pesado dentro de si mesmo, retomou um passo regular de caminhada.”
♥♥♥♥
Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Editora: Globo de bolso
Nº de páginas: 256 [conta com uma Coda e Suplemento de leitura]
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