5 de abr. de 2013

Resenha [?!]: O Sonâmbulo Amador - José Luiz Passos




“ Quem quiser, faça uma coisa. Diante do espelho, olhe nos olhos e repita duas ou três vezes aquele seu nome de infância. Jura, Jura, isto no meu caso. Vão e façam igual, qualquer coisa lá dentro se abre. Na vertigem dessa palavra vão voltar, tenho certeza, de bem longe as cenas de um tempo adormecido, o começo das coisas, momentos que passaram sem se fazer notar, com gente que não nos pedia nada em troca. Eram apenas o que eram. E não deixa de ser incrível que uma centelha disso tudo sobreviva nas meras cinzas de um mero apelido defasado…”


Se há uma leitura que queria muito fazer esse ano foi a do segundo romance do pernambucano José Luiz passos, O Sonâmbulo Amador. Entretanto a escolha do momento não foi a mais adequada e eu sofri!
Sofri porque não conseguia respirar em meus mergulhos no mar de sonhos, devaneios, lembranças e realidades impregnadas de rotina do personagem Jurandir. Mas ao mesmo tempo que não respirava e me agoniava, eu não queria desistir, não queria parar...

E não parei! Entre golfadas e lufadas de ar, em agonia e prazer, consegui terminar de lê-lo... Mas vir aqui e falar dele não foi nada fácil. Não por ser um livro difícil, não é esse o caso, mesmo sendo um pouco sim pela forma narrativa, onde delinear o que é sonho, delírio e realidade é extremamente complicado, mas ao mesmo tempo, e o que eu achei a tacada de mestre do autor, foi nos fazer conhecer o Jurandir à medida que ele mesmo retornava a si e se fazia conhecer aos outros personagens.

O Sonâmbulo Amador, é narrado em primeira pessoa, e é composto por 4 cadernos e um anexo, digamos assim, que o próprio Jurandir escreve durante o tempo em que vive num sanatório, ao qual é levado depois de atear fogo ao carro da empresa, numa viagem que fazia à Recife, para tratar do caso de um rapaz que acidentou-se na tecelagem que Jurandir também trabalha.
À medida que Jurandir vai relatando em seus cadernos suas lembranças, sonhos, seu passado e presente, como recomendação do psiquiatra Dr. Ênio, acaba por fazer um balanço do seu casamento, da relação com a amante, do seu acidente na infância, o acidente no qual perdera seu único filho. E é nesse vai e vem que ele se contradiz e reinventa-se ao longo de sua narrativa.

E sim, o sonâmbulo do título permeia toda a vida de Jurandir, é a sua própria vida, não só no que tange ao fato de estar entre o sono e a vigília,  mas também atado ao mecanicismo de uma vida rotineira, num verdadeiro automatismo burocrático.

José Luiz Passos se mostrou, a mim, de uma habilidade incrível em narrar histórias! Ainda mais uma recheada de tantas idas e vindas no tempo, na memória e na vida. Tudo na obra é bem pontuado, colocado em lugar no devido tempo, e o que nos afigura desde o início como confuso se revela, enfim, como pura reflexão.




♥♥♥♥♥

Título: O sonâmbulo amador :::
Autor: José Luiz Passos :::
Editora e ano: Alfaguara, 2012,
Número de páginas: 248



3 comentários:

Anônimo disse...

Eu adoro esse tipo de livro, Paty, mas ultimamente tenho evitado emoções mais fortes. Mas no futuro quero retomar esse tipo de leitura. Ótimo seu texto! ;-)
Bj!

Tati disse...

Paty, eu precisei parar um pouco só no trechinho que você colocou, imagina o livro todo! Assim que minhas provas terminarem, eu me jogo!
Linda sua Resenha (sem aspas, porque resenha boa se faz assim, com o coração!)
Beijo enorme
Tati

Luhhh =D disse...

Ai meu deus, eu quero ler =D
Me lembrou o livro ~O sentido de um fim~ que eu li para o clube pontos e vírgulas. Gostei muito daquele livro e esse q vc fez a resenha me deixou com muita vontade de ler.Ainda com 5 coraçãozinhos :D
Não sei bem o motivo, mas esse tipo de livro anda me provocando/amando muito. Acho que por estar muito reflexiva a respeito da minha vida hehehe :)
Vou marcar no skoob!Adoro o teu canal no youtube =D