“ Quem quiser, faça uma coisa. Diante do espelho, olhe nos olhos e repita duas ou três vezes aquele seu nome de infância. Jura, Jura, isto no meu caso. Vão e façam igual, qualquer coisa lá dentro se abre. Na vertigem dessa palavra vão voltar, tenho certeza, de bem longe as cenas de um tempo adormecido, o começo das coisas, momentos que passaram sem se fazer notar, com gente que não nos pedia nada em troca. Eram apenas o que eram. E não deixa de ser incrível que uma centelha disso tudo sobreviva nas meras cinzas de um mero apelido defasado…”
Sofri porque não conseguia respirar em meus mergulhos no mar de sonhos, devaneios, lembranças e realidades impregnadas de rotina do personagem Jurandir. Mas ao mesmo tempo que não respirava e me agoniava, eu não queria desistir, não queria parar...
E não parei! Entre golfadas e lufadas de ar, em agonia e prazer, consegui terminar de lê-lo... Mas vir aqui e falar dele não foi nada fácil. Não por ser um livro difícil, não é esse o caso, mesmo sendo um pouco sim pela forma narrativa, onde delinear o que é sonho, delírio e realidade é extremamente complicado, mas ao mesmo tempo, e o que eu achei a tacada de mestre do autor, foi nos fazer conhecer o Jurandir à medida que ele mesmo retornava a si e se fazia conhecer aos outros personagens.
O Sonâmbulo Amador, é narrado em primeira pessoa, e é composto por 4 cadernos e um anexo, digamos assim, que o próprio Jurandir escreve durante o tempo em que vive num sanatório, ao qual é levado depois de atear fogo ao carro da empresa, numa viagem que fazia à Recife, para tratar do caso de um rapaz que acidentou-se na tecelagem que Jurandir também trabalha.
À medida que Jurandir vai relatando em seus cadernos suas lembranças, sonhos, seu passado e presente, como recomendação do psiquiatra Dr. Ênio, acaba por fazer um balanço do seu casamento, da relação com a amante, do seu acidente na infância, o acidente no qual perdera seu único filho. E é nesse vai e vem que ele se contradiz e reinventa-se ao longo de sua narrativa.
E sim, o sonâmbulo do título permeia toda a vida de Jurandir, é a sua própria vida, não só no que tange ao fato de estar entre o sono e a vigília, mas também atado ao mecanicismo de uma vida rotineira, num verdadeiro automatismo burocrático.
José Luiz Passos se mostrou, a mim, de uma habilidade incrível em narrar histórias! Ainda mais uma recheada de tantas idas e vindas no tempo, na memória e na vida. Tudo na obra é bem pontuado, colocado em lugar no devido tempo, e o que nos afigura desde o início como confuso se revela, enfim, como pura reflexão.
♥♥♥♥♥
Autor: José Luiz Passos :::
Editora e ano: Alfaguara, 2012,
Número de páginas: 248
3 comentários:
Eu adoro esse tipo de livro, Paty, mas ultimamente tenho evitado emoções mais fortes. Mas no futuro quero retomar esse tipo de leitura. Ótimo seu texto! ;-)
Bj!
Paty, eu precisei parar um pouco só no trechinho que você colocou, imagina o livro todo! Assim que minhas provas terminarem, eu me jogo!
Linda sua Resenha (sem aspas, porque resenha boa se faz assim, com o coração!)
Beijo enorme
Tati
Ai meu deus, eu quero ler =D
Me lembrou o livro ~O sentido de um fim~ que eu li para o clube pontos e vírgulas. Gostei muito daquele livro e esse q vc fez a resenha me deixou com muita vontade de ler.Ainda com 5 coraçãozinhos :D
Não sei bem o motivo, mas esse tipo de livro anda me provocando/amando muito. Acho que por estar muito reflexiva a respeito da minha vida hehehe :)
Vou marcar no skoob!Adoro o teu canal no youtube =D
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