9 de jul. de 2013

Resenha: AvóDezanove e o segredo do soviético - Ondjaki





Eu não me recordo bem, quando fiz a minha lista de autores para ler em 2013, se inclui ou não o autor angolano Ondjaki. Se não, hoje me sinto feliz de o ter lido, mesmo sem listas e ou lembranças.
Na verdade estou com o nome de Ondjaki a me rodear desde o ano passado, quando comecei a seguir alguns blogs e vi alguns de seus livros sendo bem citados, como Bom dia, camaradas, Os da minha rua e Se amanhã o medo, todos títulos que quero muito ler, mas calhou que o primeiro livro desse angolano jovem, de apenas 33 anos, a cair em minhas mão fosse AvóDezanove e o segredo do soviético.

-Estórias de antigamente é assim que já foram há muito tempo?
-Sim, filho
-Então antigamente é um tempo Avó?
-Antigamente é um lugar.
-Um lugar assim longe?
-Um lugar assim dentro.”

O enredo para esse romance parece, à primeira vista,  bastante simples, haja visto que é pela perspectiva de uma narrador adulto, que revisita sua infância, que travaremos conhecimento das brincadeiras de crianças em dias muito quentes e de alguns acontecimentos na PraiaDoBispo, em Luanda, no período pós-independência. Mas como eu disse, o enredo só parece simples, mas de fato não é, pois a história surpreende pela leveza e graça que é contada e ao mesmo tempo não nos fecha os olhos para a realidade de um país após uma guerra civil. E isso Ondjaki soube mesclar muito bem, a realidade está em todo o romance, só que de uma forma mágica, afetiva,  vista pelos olhos inocentes de uma criança.

Acho que as lembranças são cócegas invisíveis que ficam dentro das pessoas. E quando me lembro dessas coisas começo a rir sozinho até o 3,14 me perguntar se eu sou maluco de irr tantas vezes sozinho.

Os soviéticos estão na comunidade da PraiaDoBispo para construir um Mausoléu para o presidente e, com isso, derrubarão as casas de todos os moradores, incluindo a da AvóNette e seu neto-narrador, para garantir que o projeto seja seguido à risca. Quem comanda a empreitada é o Camarada Bilhadorv, ou Bortadov, Sovacov na linguagem das crianças, que tiram muito sarro dos soviéticos e que também nutre uma paixão pela AvóNette. O narrador menino vai nos apresentando as várias personagens da história, como seu amigo 3,14 ,cujo nome é Pi; a AvóCatarina que aparece e se esconde; o VendedordeGasolina que espera por um cliente que não vem; o EspumaDoMar , que só fala cubano e diz criar um jacaré no quintal e tantos outros.

As crianças brincam por todos os lados e mesmo não entendendo bem das mudanças à sua volta, eles não estão alheios, e é por não querer perder esse mundo que conhecem tão bem e onde são felizes, que o narrador, aliado à 3,14 e Charlita, resolve que irá "desplodir" o mausoléu, pra garantir que tudo continue como está, e toda a história se moverá em prol dessa missão.

 Há uma miscelânea de idiomas, neologismos que  nos deixa claro como é que um país que se vê obrigado a aliar-de a outros para sobreviver. Fica bem clara a convivência de angolanos, cubanos e soviéticos, além da inclusão norte-americana através do cinema, que dá o tom de humor ao romance justamente pela confusão que a língua pode trazer, mas que nesse caso, é uma delícia e faz do glossário, no final do livro, algo totalmente dispensável. 

O vento não deve gostar de andar sozinho, se reparem bem, porque sempre quer levantar poeira, dobrar as árvores, soprar as folhas e arrastar as nuvens para longe."

Também vislumbramos traços de uma Luanda socialista ao nos depararmos com cenas como as pedras que guardam lugar na fila da padaria, uma alegoria clara ao racionamento de alimentos, às ruas que não tem calçamento, a  precariedade dos serviços de água e luz, que são tirados de uns em detrimento de outros.

A linguagem poética, a narração terna e doce sobre o relacionamento de um neto e suas avós, a amizade, o tom lírico e suave com que Ondjaki faz essa mágica é o que torna esse romance inesquecível!

...as palavras têm encanto de magia e forças do invisível."

♥♥♥♥♥ 


Título: AvóDezanove e o Segredo do Soviético
Autor: Ondjaki
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2008
Número de páginas: 188






3 comentários:

Melissa Padilha disse...

Ai Paty meu deus ! preciso ler Ondjaki urgente, tenho esse livro tb, quero lê-lo em breve!
bjos
Melissa

Anna disse...

Esse livro é lindo, singelo e muito bonito, Mel... ;D

Xerinhos
Paty

Unknown disse...

Eles conseguem destruir o mausoleu?