“Queime tudo, queime tudo. O fogo é luminoso e o fogo é limpo.”
Tantas foram as vezes em que tive a oportunidade de ler esse livro e deixei passar...
Tantas foram as pessoas que o indicaram e eu permaneci alheia a ele...
Mas dentre tantas leituras novas, não me concedi o direito de continuar a deixar de encará-lo... E agora sei que fiz muito bem!
O romance foi escrito após a Segunda Guerra Mundial e se passa numa América do futuro, totalmente hedonista, anti-intelectualizada, uma sociedade totalitarista onde se queimam livros, o pensamento crítico foi habilmente desestimulado e extirpado e quem tem opiniões próprias são tidas como, no mínimo, pessoas antissociais.
Nessa sociedade, quase tudo está fora de controle, pessoas se divertem dirigindo à alta velocidade pelas ruas, sendo violentas e agressivas umas com as outras e uma minoria [seja ela qual for] é quem dita o politicamente correto e pode denunciar livremente o que lhe incomoda. Em casas há muito construídas com um eficaz sistema anti-incêndio, vivem cercadas por telas e interagem com as "famílias", personagens de programas, seriados que praticamente anula a convivência real entre as pessoas. Nessa sociedade os bombeiros ainda existem, mas com uma nova função: a de queimarem livros, o que fazem com um prazer orgasmático!
E é assim que o romance começa, com Guy Montag, o protagonista da história, bombeiro, assim como seu avô e pai, relatando o seu prazer em incendiar livros. Mas a trama toda se modela justamente quando Guy conhece a adolescente Clarisse McClellan, uma jovem de pensamento livre, questionadora, feliz com os pequenos prazeres diários e há muito esquecidos. É Clarisse que o leva pelas mãos, como se fosse a serpente no paraíso, e abre a ele os caminhos para a busca do que é o verdadeiro conhecimento e a real felicidade.
“Todos devemos ser iguais. Nem todos nasceram livres e iguais, como diz a Constituição, mas todos se fizeram iguais. Cada homem é a imagem de seu semelhante e, com isso, todos ficam contentes, pois não há nenhuma montanha que os diminua, contra a qual se avaliar. Isso mesmo! Um livro é uma arma carregada na casa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Façamos uma brecha no espírito do homem.”
Depois de alguns encontros com Clarisse Montag muda nitidamente, ao ponto de questionar a real natureza do seu casamento com Mildred, que, por mera distração com suas telas, não percebe estar tomando todo um frasco de medicamento, levando o marido a chamar uma equipe "médica" que, com uma máquina, irá filtrar todo o sangue dela e permitindo-a que continue viva e sem lembranças do que ocorreu.
A partir do questionamento de ser ou não feliz, Montag envereda por outros, como o que pode haver nos livros que os tornam tão desnecessários e tão perigosos. E durante a narrativa vamos sendo apresentados a outros personagens igualmente importantes, como Beatty, chefe dos bombeiros, um homem intrigante, capaz de citar grandes autores e apregoar a sua periculosidade da mesma forma que acende seu cachimbo.
Há também o professor Faber, que é quem o esclarece sobre o verdadeiro potencial dos livros:
“Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas.”
O livro é narrado de forma fluida e o é dividido em três partes: 'A Lareira e a Salamandra', 'A Peneira e a Areia' e 'O Clarão Resplandecente'.
Com um texto que condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas principalmente o cenário político-econômico dos anos 1950, Fahrenheit 451 revela a apreensão de uma sociedade opressiva e comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra. Além também de ser uma crítica super atual, onde cada vez mais as pessoas se alienam, claro, com a cumplicidade e atuação maçante do nosso estado, onde a diverção e a interação através das telas [tvs, celulares, tablets e afins].
Com um texto que condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas principalmente o cenário político-econômico dos anos 1950, Fahrenheit 451 revela a apreensão de uma sociedade opressiva e comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra. Além também de ser uma crítica super atual, onde cada vez mais as pessoas se alienam, claro, com a cumplicidade e atuação maçante do nosso estado, onde a diverção e a interação através das telas [tvs, celulares, tablets e afins].
Fahrenheit 451 é a exata temperatura que o fogo atinge ao queimar um livro, ou 233ºC.
“Agora, inalando toda noite para dentro de sua boca aberta e exalando-a pálida, com todo o negror que lhe restava pesado dentro de si mesmo, retomou um passo regular de caminhada.”
♥♥♥♥
Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Editora: Globo de bolso
Nº de páginas: 256 [conta com uma Coda e Suplemento de leitura]
3 comentários:
Oi Paty!
Esse também é um dos livros que ando protelando muito para ler, parece ser fantástico, já vi tantas pessoas elogiarem que é impossível não ser ótimo!
bjos
Melissa Padilha
decoisasporai.blogspot.com.br
E é mesmo fantástico, Mel! Não deixe de ler!
Xêros
Paty
Farenheit 451 não é somente uma crítica ao totalitarismo de direita, é muito tbem ao de esquerda e a um de seus subprodutos: o politicamente correto.
Os livros eram queimados para que as ideias fossem homogeneas e para nao gerarem discórdia entre as pessoas.
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