21 de fev. de 2013

Resenha: A Louca da casa - Rosa Monteiro

Travei conhecimento com nome de Rosa Monteiro em 2012, quando assisti a um vídeo da Juliana Gervason, d'O Batom de Clarice, e ele ficou ecoando em minha mente, até que pesquisando sobre ela cheguei a alguns títulos que me chamaram muito atenção, como A Louca da Casa, A Filha do Canibal, O rei Transparente entre outros. Mas foi depois que fiz esse vídeo,  e que a Denise Mercedes, do blog Meus Olhos Verdes, reforçou a minha vontade me deixando a dica pra começar pelo A Louca da casa. Segui seu conselho e nada mais providencial e mais acertado!

Rosa Monteiro, é uma escritora madrilenha que ainda hoje escreve para o jornal "El País" e tem mais de 20 livros publicados entre ficção e não-ficção. Sua escrita é gostosa, bem humorada, atraente,sedutora e me conquistou logo nos primeiros parágrafos do livro.  O livro A Louca da Casa é quase um caleidoscópio de gêneros, um mix muito bem feito de romance, autobiografia, ensaios, onde se mesclam harmonicamente literatura, escrita e a própria vida! O título “A louca da casa” é como Santa Teresa d´Ávila –  a grande mística da Igreja – chamava a imaginação. E não, não me atirem pedras alegando que já estou cometendo o maior spoiler do livro, pois ficamos sabendo disso assim que lemos a contracapa do mesmo!

O tema do livro é um dos mais caros aos escritores e aspirantes a escritores: de onde vem a imaginação que move o humano à escrita,  a criatividade que faz com que o escritor escreva histórias boas ou más. No entanto, não há nenhuma restrição aos leitores não escritores de apreciarem a obra e a discussão que Rosa nos oferece em seu A Louca da Casa, porque o bom leitor é aquele que também reflete sobre o que lê, ao menos é o que eu penso!

"Nós inventamos nossas lembranças, o que é o mesmo que dizer que inventamos a nós mesmos, porque nossa identidade reside na memória, no relato da nossa biografia. Portanto, poderíamos deduzir que os seres humanos são, acima de tudo, romancistas, autores de um romance único cuja escrita dura toda a existência e no qual assumimos o papel de protagonistas." [p.12]

Essa citação é a chave, ao menos foi pra mim, para entender com clareza o que Rosa quer fazer ao narrar três vezes um mesmo evento com finais e elementos que diferem, mas que também tem muito em comum. E é essa mescla de autobiografia e os muitos relatos curiosos sobre outros autores e como cada um deles lidou, a seu tempo, com o ato de escrever, com a vaidade, dinheiro, com o fracasso, preconceitos, sucesso, fama e a própria vida, que torna o livro ainda mais interessante, pois não temos a sensação de estarmos lendo um tratado tedioso sobre o poder da imaginação e a escrita, nem um relato meloso da vida da autora.

Além de todas essas curiosidades sobre diversos autores como, Goethe, Llosa, García Marquez, McCullers, Henry James, Kipling, Tolstói, Eliot, Capote e tantos outros, Rosa Monteiro nos lança suas muitas e interessantes teorias, como a de que "o pensamento racional e a consciência do eu destroçam a criatividade."[p. 46], ou ainda que é necessário não crescer demais para continuar escrevendo: "Para escrever, enfim, vale a pena continuar  sendo criança em alguma região de si mesmo." [p. 85], bem como o fato de ser romancista é saber que "dentro de nós somos muitos", sendo assim, para ela, o romance é como uma "esquizofrenia autorizada". 

Além de todas essas teorias, uma das que mais gostei é a defesa que ela faz do argumento de que as mulheres que fazem literatura escrevem para o gênero humano, não apenas para serem lidas por outras mulheres, derrubando por terra a existência e ou o termo de "Literatura de mulheres". E ainda nos lembra que a metade do gênero humano é composto de mulheres. Com isso, Rosa Monteiro assume seu feminismo – ou, como ela prefere, seu anti-sexismo – para criticar o machismo da cultura oficial. E o mesmo ela faz quando se vê questionada se prefere ser escritora ou jornalista, e acabada dando uma lavada com classe, já que o jornalismo é um gênero literário e seu melhor exemplo é Truman Capote, com seu A Sangue Frio!

Diante de tudo isso, não tive outra escolha a não ser ler o livro a passo de tartaruga, degustando e relendo muitas vezes algumas partes, mas sempre me atendo ao alerta da própria autora:

"Tudo o que conto neste livro sobre outros livros ou outras pessoas é verdade, quer dizer, responde a uma verdade oficial documentalmente verificável. Mas receio que não possa garantir o mesmo sobre o que se refere à minha própria vida. Porque toda autobiografia é ficcional e toda ficção, autobiográfica, como dizia Barthes." [p. 233]



Título: A Louca da casa
Título Original: la loca de la casa
Autora: Rosa Monteiro
Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman
Editora: Pocket Ouro [selo da Ediouro Publicações]



3 comentários:

Lua Limaverde disse...

Esse é um que quero ler, mas é daqueles que eu nunca lembro quando vou à livraria. Fico imaginando que deve ser uma delícia a leitura! Beijinho!

Anna disse...

Lu, anota então em um caderninho e leva sempre contigo, pois vale muito a pena, é mega bom de verdade! ;)

Xerinhos!

Eduarda Sampaio disse...

Acabei de ler a resenha da Michelle e ela me mandou para cá. Esse livro parece ser tão rico... Só de ler as resenhas já fiquei interessada.
Beijo! ^_^