29 de jun. de 2012

Resenha: Sou dona da minha alma O segredo de Virginia Woolf - Nadia Fusini




A primeira vez que tive contato com o nome de Virginia Woolf, foi há muito tempo, numa conversa com um professor de literatura que tive. Depois dessa conversa, novamente, ouvi falar dela quando li o livro As Horas, do Michael Cunninghan [esgotado] e em seguida vendo o filme.



A empatia foi imediata e de cara procurei algo dela pra ler e o primeiro livro a cair em minhas mãos foi "Ao Farol", publicado em 05 de maio de 1927, 30 anos depois que perdeu sua mãe; na época Virgínia contabilizava apenas 13 anos.
A empatia foi só crescendo à medida que suas palavras passaram a me confundir, pois falavam muito de como eu via tudo a volta...

Sempre disse que escrever, pra mim, era muito mais do que um exercício, um parto, mas sempre foi a minha tábua de salvação! E como não se perder e encantar com alguém que se alivia das dores, do fardo nas obras que escreve, pois é só assim que Virgínia consegue viver, esquecendo na sua obra todas as suas dores. A literatura foi sua salvação. Nela, guardou sua alma. “Para dizer a verdade, Virginia recorre ao fingimento”, afirma Nadia. A vida lhe doía demais, e só conseguiu expressá-la – só conseguia viver – quando escrevia. e foi assim que Virgínia emprestou sua alma, num intricado entrelaçamento entre memória, esquecimento e recordação, gerando belos frutos, que são os seus romances e personagens.

Essa não é a única biografia de Virginia Woolf e nem foi a primeira, no entanto, Nadia Fusini, que é romancista, crítica literária, professora e tradutora e escreveu essa biografia em 2006, escapa do frio texto jornalistico, da crueza dos fatos e nos enreda em um texto convidativo, uma prosa poética, meio que destinada principalmente às mulheres, com quem conversa como se fosse amiga de longa data. Em pequenos capítulos ela nos enreda numa renda sutil e intricada que é a alma de Virgínia, e não se enganem, em nenhum momento a leitura se torna enfadonha ou tediosa.

Utiliza-se do diário, os romances, as cartas e os fragmentos de memórias, para recriar o mundo de Virginia: da Kensington natal, vitoriana e burguesa, onde sentiu as dores das perdas da mãe e do pai, sentiu as mãos impudicas dos irmãos a bolinarem incestuosamente, à vida nova no bairro boêmio de Bloomsbury, onde jovens dividiam sua amizade, interesses artísticos, sociais; discutiam e tratavam de assuntos como a batalha feminista ao pacifismo às posições revolucionárias sobre a literatura, a arte, a ética. Bloomsbury mudou não apenas as formas do pensamento de Virgínia, mas também o modo de escrever . São muitos os personagens que transitam em torno da escritora: o pai Leslie e a mãe Julia, a irmã Vanessa e os meios-irmãos, além dos amigos Lytton Strachey, Roger Fry, Maynard Keynes, Katherine Mansfield e T. S. Eliot, o marido Leonard, com quem viveu um casamento longo e casto, e a amada Vita Sackville-West, sua amante e o objeto de suas dores maiores.

Aos poucos vamos compreendendo como Virginia viveu e estudou sua "loucura", hoje claramente seria diagnosticada com transtorno bipolar, numa luta que teve como melhor companheiro o marido Leonard, que por entender que o processo salvador de Virgínia era, retorno a dizer, o de colocar no papel tudo que estava dentro de si, angustiado, irresoluto, a fervilhar, por entender sua força e insegurança, que comprou uma prensa e, pra protegê-la tornou-se e a ela editores. Inspirava emoção e devolvia ao mundo literatura. O que apreendia do mundo em que vivia transformava em palavras para serem lidas Até que, pela fragilidade psicológica agravada pela realidade desoladora da guerra, já não consegue escrever. E como escrever era o que alimentava sua alma, antes de realmente enlouquecer, Virginia decide partir.

E é Nadia Fusini quem nos guia, com maestria, singeleza, não só contando, acima de tudo, justificando o segredo de Virginia Woolf.
Preciso ainda dizer o quanto vale a pena ler e se embriagar com essa "biopoéticagrafia" de Virgínia Woolf? ;oD

Também não posso deixar de parabenizar à Bertrand Brasil pela primorosa edição! A arte da capa está maravilhosa, acentuando a fragilidade, força e feminilidade do perfil de Virgínia, ainda mais com o delicado detalhe da renda, a exaltar  o ar melancólico da escritora



Sou dona da minha alma: O segredo de Virginia Woolf
Título Original: Passiedo la mia anima
Autor: Nadia Fusini
Tradutor: Karina Jannini
ISBN: 8528614344
Gênero: Biografia/ Memória
Páginas: 420
Formato: 16 x 23 cm
Editora: Bertrand Brasil

2 comentários:

Elena Corrêa disse...

Também me apaixonei pela história dela após assistir ao filme "As Horas". A cena do suicídio, ela entrando no rio, é inesquecível.

Eduarda Menezes disse...

Nunca li nenhum livro de Virginia Woolf, tampouco conheço sobre a sua história, que parece ser bem interessante. A autora certamente conseguiu ocupar o sue lugar junto dos imortais da literatura, e não tenho dúvidas de que um dia lerei algum livro dela.
Acho que os autores deixam o seu pedaço em cada texto/livro que escrevem, e ela pelo visto conseguiu colocar toda a sua alma nas suas obras que parecem ser repletas de sentimentalismo e identidade. Fiquei realmente curiosa para conhecer mais sobre Virginia (a pessoa), e Virginia (obra).
A capa da biografia é linda!
Beijão!