22 de fev. de 2013

Do passado e tão presente...



FOI TUDO DIFERENTE...

Quando eu era criança eu tinha plena certeza de que seria uma pessoa realizada.
Mesmo sem saber o que equivalia se dizer realizada. Iria me formar, casar, ter filhos e viver muito feliz, assim como os meus pais. E a única coisa que me cabia e me faltava, era crescer.
O tempo demorou um pouco a passar e, com a demora, alguns sonhos e certezas tomaram um rumo diferente do que eu tinha delineado. Não me tornei astróloga, bióloga, professora de história; não me casei aos 19 anos e nem tive filhos. Meus pais não foram felizes para sempre, e nem estão mais juntos. Apesar de falar demais, ainda sei ouvir, mas não fui capaz de terminar psicologia, que eu amava. Sempre foi mais fácil acreditar no que me diziam de ruim... E quando a gente cresce, o clássico "Rolha de Poço" se torna bem mais cruel.
Mas sim, era mais fácil aceitar do que tentar provar pra quem não se interessava de verdade, que o poço, na verdade, era sem fundo e que não importava a rolha.
Algumas poucas e raras pessoas tentavam me falar sobre a profundidade do poço, do quanto seria interessante mudar o foco e olhar a rolha como o fim, e não o início. No princípio não conseguia ver nada. Debatia-me, queria sair, mas esperava que a salvação viesse do céu! Claro, ela não veio! Então busquei refúgio em todas as minhas fugas.
Acreditei ser diferente porque me convenceram que diferenças eram fundamentais e que eu o sendo, era normal. Mas não, aprendi que ser diferentemente verdadeiro traz muita dor. Resolvi falar, ninguém quis escutar. Relutei por certo tempo, até que calei. Deformei-me fisicamente, porque precisava colocar pra fora toda a dor que não conseguia reter. Fui salva algumas vezes, mas só depois que eu mesma me permiti salvar-me. Amei homens que nunca me conheceram, que muito me ouviram, mas que não me quiseram, todos tendo em comum o medo do desconhecido.
Aprendi a temer, a me colocar em segundo plano e a ser a que ouve e ajuda, mesmo quando mais precisava e continuava calada. Sempre desisti. Era mais fácil agarrar-me à rolha e deixar que a água me cobrisse. Mas nada é pior do que os pulmões cheios d¿água. Acabei vindo subindo à tona e consegui respirar. Cansada, sem forças, mas deparei com a certeza de querer continuar.
Passei a me enfrentar no espelho, chorar no escuro, brigar com Deus, trancafiar metade de mim em uma lata, virei uma catarse ambulante... Delineei-me em frente ao espelho, chorei por não gostar de tudo o q vi, me reconciliei com Deus e passei a moldar-me mais uma vez.
Hoje sei de cada erro, das minhas culpas e da impossibilidade de voltar atrás pra concertar cada um. Mas tenho aprendido que cada novo dia é dia de recomeçar, que não adianta me lamentar... Ainda não aprendi a parar de pensar, mas estou me esforçando a pensar menos e a deixar a vida fluir, como tem que ser. Não peço perfeição e nem retribuição de nada que faço, porque faço pelo prazer de fazer, se retribuição vier, será melhor, mas que seja algo natural. Quero viver feliz, na simplicidade dos dias, da própria vida...
Porque tudo isso?
Também não sei ao certo, mas sei que sou melhor do que muita gente pensa, e que não sou a fraude que por muito tempo acreditei ser.
Sou melhor, sou grande, sou gente crescendo...

No escaninho da lembrança há coisas demais, mas devem ficar lá... Porque agora é tempo de recomeçar...

Escrito na madrugada quente de 21/02/05, mas ainda há tanta coisa tão pertinente..

.

2 comentários:

Tati disse...

Lindo Paty!
Só queria dizer que passei e li e suas palavras soaram fundo aqui. Acho que você sabe, esse é o tipo de texto que mais cala do que desperta a fala.
Te ouvi e fiquei feliz por você estar deixando a vida fluir, apesar da dor que é viver.
Beijo enorme e saiba que tem alguém aqui que te admira cada vez mais ;)
Tati

Anna disse...

Não gosto muito da frase de que a dor, o sofrimento sejam condição humana, mas estão aí, né, então de alguma maneira temos que aprender a lidar com tudo, mesmo que pra tanto seja preciso alguns muitos escorregões também, né Tati..

eu continuo aprendendo, ainda mais com pessoas como você!
Obrigada, lindeza!

Xerinhos
Paty