2 de set. de 2009

Aguamentos



Meu grito nu toma lugar entre
Os elementos e minha boca, em assombro,
Derrama-me no vasto querer da insone noite.

Em meus ouvidos chora um mar,
Enquanto tento, entre agulhas do tempo,
Tecer o espaço para o que tenho doado.

Minha arca está cheia de fracas conquistas
E o silêncio incendeia o dia que recomeça
Como um avesso do nada refletido no espelho caco.

Lavo as mãos nas dobras do mar
E macero o sal da terra em teus ondulantes
Reflexos que adivinho-me com uma quase simpatia.

Suicida, o orvalho deflora a pétala quase morta
E numa calma virulenta o dia brota rubro
Numa margem rouca que a noite descuidou.

Naufraga de mim, adormeço com a noite,
Sem querer dar conta dos destroços de nós...



Patrícia Gomes
Imagem: Desconheço a autoria, pinçada do Google

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