23 de ago. de 2009

Arquiteto



Não sei ao certo
O que me devora,
Mas gosto do meu gosto
Em sua boca.

Tudo o que criei
Nublou-se e me cega, mesmo
Tendo-me como estátua
Sem roupas ou véus...

Tão bem arquitetada me achava
Nos idos da infância, no entanto,
Muitas foram as voltas
Dos dias e noites.

Restolhos do que fui caem
Dos olhos, à medida que
Miro-me das sacadas da vida
E vislumbro as nervuras da
Laje da minha existência...

Tentei fugir algumas vezes,
Mas olhos, seios, ventre,
Sorrisos e algo mais
Possuem-me com brutalidade...

[Será esse o gosto que gosto?]

Vejo-me incapaz de dispersar,
De tornar-me assassina de
Tantos eus que gritam
E dormem em mim.

Retorno à laje
E já não é estranho
Pensar em recomeçar...



Patrícia Gomes
Imagem: Desconheço a autoria

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