20 de mai. de 2009

Peter Pan



Tenho economizado meus sorrisos
deixado que meus sonhos transbordem
dentro de mim e tento, sem tanto afinco,
evitar que escorram pelos meus olhos e que,
assim, os teus não conheçam o que seja o mar de sal…

Tento falar algo que queria calar
mas o bumbo que soa no peito é delator
e os ecos se fazem suficientes para que nada
lhe passe desapercebido e o dique que não quero
romper, fica cada vez mais frágil e já sangra em mim…

Dos meus olhos, espelho já não se sabe do quê,
saltam vagas confusas de mim mesmo e, percebo
agora, que estavam em um labirinto perdido de mim
ou será que eu mesmo quis deixar assim, extraviado do
que penso, quero e me faço.

Acovardo-me quando fito teus olhos secos e
por saber que logo estarão encharcados de dores
que mal calo em meu mutismo de bicho acuado pelos
meus próprios rastros meticulosamente calculados,
dos raros inesperados e muitos outros dados ao léu…

Os dias chegam e se instalam em mim numa
corcunda que cresce lenta e gradualmente, uma
âncora que lateja minha carne em dores que não são
de outros, mas que vagam entre meus olhos e o coração,
como água que marca o curso de tudo…

Minh’alma , sulcada por teu amor, sempre
acolheu as sementes de beijos e afagos, mas
agora, nessa hora perplexa, sinto-me árido e tua luz
já não me alimenta, pois ceguei-me de ti, por não saber agir…

No raro espaço de tempo entre o beijo de ontem
e o adeus de hoje, eu deixo aqui somente algumas
efêmeras lembranças…




Patrícia Gomes
Imagem: Yuri Bonder

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