24 de jul. de 2013

Resenha: O Oceano no fim do caminho - Neil Gaiman





Há alguns anos que vivo mergulhada em um encantamento alheio pelos feitos de Neil Gaiman. Mas o meu mergulho se dá ainda mais fundo quando ouço falarem de Sandman. Mas ainda não li, já que resolvi que só farei a leitura no dia em que estiver com os 3 volumes definitivos dessa obra, o que, infelizmente vai demorar um pouco. Mas quebrei o encanto no final do ano passado ao ler meu primeiro Gaiman: Coisas Frágeis 2 e mesmo diante de um certo estranhamento gostei muito da leitura.

Estava prestes a começar a me embrenhar pelos caminhos de Lugar Nenhum quando me caiu nas mãos o e-book  O Oceano no fim do caminho. Fiquei relutante em ler, já que muitas das minhas leituras desses dois últimos meses não fluíram, mas assim que o comecei, não quis mais parar...


O narrador, que durante todo o romance não é nomeado, é um homem de 40 anos que, volta à cidade da sua infância para um velório e em determinado momento se vê partindo por outros caminhos, caminhos esses que o levam de encontro à sua infância, a fazenda das Hempstock. Nela habitavam três gerações de mulheres: a velha Sra. Hempstock, a sua filha, a Sra. Hempstock e por sua neta, Lettie Hempstock.

Era apenas um lago de patos, nos fundos da fazenda. Nada muito grande. Lettie Hempstock dizia que era um oceano, mas eu sabia que isso não fazia o menor sentido. Lettie falou que elas haviam atravessado o oceano até ali, vindas da velha pátria. Sua mãe dizia que Lettie não lembrava direito, e que não tinha sido muito tempo atrás, e, de qualquer maneira, a velha pátria havia afundado. A velha sra. Hempstock, avó de Lettie, argumentava que ambas estavam erradas, e que o lugar que afundara não era a velha pátria de verdade. Ela declara recordar-se bem da velha pátria de verdade. Afirmava que a velha pátria de verdade havia explodido.

Há anos que ele não pensava na velha amiga e nem nos acontecimentos de sua infância, mas ao se deparar com o lago, que Lettie teimava em dizê-lo oceano, as lembranças de sua infância vieram à tona, o levando a pensar em quanto de tudo que vivera era verdadeiramente real ou magia. E é nesse momento que o narrador nos leva, junto a ele, ao tempo em que tinha 7 anos, quando ainda era uma criança solitária e que todas as respostas que precisava e todo abrigo e proteção que queria encontrava nos livros, mas também um ano de muitas perdas... Perdera seu quarto, seu gato fora atropelado pelo novo inquilino, este roubara o carro da família e cometera suicídio, ninguém apareceu em sua festa de aniversário...

Livros eram mais confiáveis que pessoas, de qualquer forma.

Enfim, com uma linguagem simples, cheia de mistério e magia, Neil Gaiman me transportou para um mundo particular onde a mente criativa se ativa com força para garantir a sobrevivência. Onde as dores infantis, tantas vezes injustas, ainda deixa espaço para que se explore um caminho pra fugir de tudo o mais e conseguir finalmente respirar em algum porto seguro.

Fez o silêncio. As sombras pareciam ter se tornado mais uma vez parte da noite. Pensei no que acabara de dizer, e soube que era verdade. Naquele momento, pela primeira vez na minha infância, eu não estava com medo do escuro, eu estava mesmodisposto a morrer (tão disposto quanto qualquer criança de sete anos, certa de sua imortalidade, pode ficar) se morresse esperando por Lettie. Porque ela era minha amiga."

Impressionou-me fortemente o quanto o autor foi capaz de falar de si, de sua própria história sem cair no clichê, sem tentar justificar-se e muito menos sem se expor. E o melhor é que a história tem tantas entrelinhas, tantas formas de ser lida e vista, que qualquer coisa que falemos dela pode denunciar aspectos importantes da trama, mas as emoções que esse livro, de aparente simplicidade, nos desperta são únicas e só lendo para saber exatamente qual é a extensão do seu caminho e o quanto o oceano lhe dirá...

É um livro melancólico, dolorido, que me levou às lágrimas, mas também é um livro carregado de esperança ou, poderia dizer, que me fez me recarregar de esperanças...

 - Vou dizer uma coisa importante para você. Os adultos também não se parecem com adultos por dentro. Por fora, são grandes e desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles parecem com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua idade. A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho...


♥♥♥♥♥




Título: O oceano no fim do caminho
Autor: Neil Gaiman
Tradutor: Renata Penttegill
Editora: Intrínseca
Ano: 2013
Número de páginas: 208



3 comentários:

Igor Gouveia disse...

Depois dessa sua resenha, só posso dizer uma coisa: Preciso desse livro!

Abraços,
Igor Gouveia
http://www.diariodebordodeumleitor.com/
(Espero seu comentário lá.)

Michelle Henriques disse...

Estou com esse livro há algumas semanas, mas ainda não consegui pegar pra ler. Desde o começo eu senti que ele exigia total dedicação, que não posso dar no momento.

E sempre que ando de metrô aqui em SP vejo alguém com esse Gaiman nas mãos. Muito bom saber que um livro dele está atingindo o grande público!

Ótimo texto, como sempre!

Beijos!

Melissa Padilha disse...

Oi Paty!
Esse livro é fantástico, me emocionei tb com essa história, é sensível, é doloroso, é tudo de melhor, não sei exatamente como dizer algo sobre ele.
Estou dizendo que meu coração dói ao lê-lo, porque é daqueles que toca na alma e no coração.
Com certeza um dos melhores de 2013!
bjos
Melissa