23 de set. de 2012

Resenha - Extremamente Alto e Incrivelmente Perto


A primeira vez que ouvi falar desse livro foi no fim de 2011.
Na verdade fiquei sabendo de um filme, Tão Forte e Tão perto, que uma das minhas cunhadas queria muito assistir. Não deu outra, quando fomos ao cinema, o filme já tinha saído de cartaz e só me restou procurar na net e baixar, e assim o fiz. Mas pesquisando sobre o filme, acabei por saber que o roteiro foi baseado no livro do Jonathan Safran Foer, e lendo as sinopses, resenhas, não deu outra, fiquei louca pra ler, mas infelizmente o livro estava e ainda o é, muito caro [preço variando de R$ 37,00 à R$ 47,00!!!] Mas também deixei o filme guardadinho, pois só o veria após a leitura do livro.

O tempo foi passando e, infelizmente, o valor do livro não diminuiu, até que, aproveitando uma das mega promoções do Submarino, adquiri o meu exemplar, quando ele chegou quis logo pegá-lo, mas estava travando uma batalha com Resposta Certa, do David Nicholls [não resenhei, mas fiz um vídeo/apelo aqui], e depois que o terminei e passei adiante numa troca no Skoob, não larguei mais Extremamente Alto & Incrivelmente Perto; e o apego a ele foi tanto que, ao final, lá estava eu, economizando as frases, lendo bem devagar pra que o livro não acabasse, e quando terminei, ah, fiquei meia hora abraçada à ele na cama enquanto marido dormia ao meu lado, pela madrugada adentro...

SINOPSE
“Nunca é possível reconhecer o último momento de felicidade que antecede uma tragédia. Seja ela o ataque às torres do World Trade Center, seja o cruel bombardeio aliado sobre Dresden, que arrasou a cidade e a população civil da histórica cidade alemã na Segunda Guerra Mundial. Portanto, dificilmente há tempo de verbalizar o amor que se sente pelas pessoas próximas que, por um golpe do destino, tornam-se distantes. Esta constatação e os dois acontecimentos históricos guiam ‘Extremamente alto & incrivelmente perto’. O principal narrador do livro, Oskar, é um menino extremamente inteligente de 9 anos de idade, sofre com a morte do pai, uma das vítimas do ataque ao World Trade Center, que estava no local da tragédia por um mero acaso – uma reunião no Windows of the World, o restaurante no último andar de uma das torres. A dor de Oskar não vem só da perda, mas do fato de julgar ser o único a ouvir as últimas palavras emitidas pelo pai, deixadas numa secretária eletrônica.” Fonte

"Adorava ter um pai que era mais inteligente que o  New York Times e adorava o jeito que minha bochecha sentia os pelos do peito que atravessavam sua camiseta, e o jeito que ele sempre cheirava à loção pós-barba, mesmo no final do dia. Ao lado dele, meu cérebro ficava quieto. Eu não precisava inventar coisas. "

A história, em sua maior parte, é relatada pelo pequeno Oskar Schell, um menino de 9 anos com um comportamento atípico para crianças dessa idade, afinal qual criança de 9 anos que tem um cartão de visitas? E mais ainda, assim: 
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OSKAR SCHELL
Inventor, desenhista de jóias, fabricante de jóias, entomologista amador, francófilo, vegan, origamista, pacifista, percussionista, astrônomo amador, consultor de informática, arqueólogo amador, colecionador de: moedas raras, borboletas que morreram por razões naturais, cactos em miniatura, memorabilia dos Beatles, pedras semipreciosas e outras coisas.
E-mail: oskar_schell@hotmail.com
Fone residencial: privado
Celular: privado
Fax: Ainda não tenho uma máquina de fax
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No entanto esse comportamento é totalmente explicado quando vemos, no desenrolar da história, como era a relação entre ele e o pai, Thomas, que sempre o estimulara, criando para ele "expedições de reconhecimento", procurando erros no New York Times, contando histórias e  televisão só se fosse para assistir a documentários apropriados à idade de Oskar, mas a liberdade era total com relação aos livros. E Oskar não decepciona, seu livro preferido é Uma breve História do Tempo, do Stphen Hawking, pra quem o menino sempre envia cartas.

Thomas Schell, era filho de alemães que sobreviveram ao terrivel bombardeio à Dresden durante a Segunda Guerra Mundial e que estava na torre norte do Word Trade Center para uma reunião de negócios, por mero acaso. Thomas tocava a joalheria que era da família, mas seu sonho era ser cientista. Ao receber a noticia da morte do pai, Oskar se lembra das mensagens que o mesmo deixou na secretária eletrônica de casa, e as usa como suporte e culpa, suporte para aceitar a perda e culpa por ter sido o último a ter ouvido as últimas palavras do pai.

Um ano depois, ao entrar pela primeira vez depois do acidente no closet do pai, Oskar descuida-se e derruba um vaso que escondia um envelope com uma chave dentro e por fora uma palavra: Black. Depois de tentar abrir todas as fechadureas com a chave que encontrara, sem sucesso, Oskar decide que Black é um sobrenome e resolve procurar os Black, para então saber qual fechadura a chave abre e, claro, saber mais sobre seu pai, e é assim que se inícia a busca de Oskar pelo dono da chave e pela proximidade com o pai. E, de certa forma, também é uma tentativa de punir a mãe, que tenta levar adiante a vida.

(…)”Ele tinha células, e agora elas estão nos telhados dos prédios, no rio e nos pulmões de milhões de pessoas em Nova York, que respiram ele toda vez que abrem a boca para falar!” “Você não devia falar desse jeito.” “Mas é a verdade! Por que não posso dizer a verdade?” “Você está perdendo o controle.” “O fato do pai ter morrido não te dá permissão para ser ilógica, Mãe” (…)

Paralelamente, somos guiados à história dos avós paternos de Oskar, ambos sobreviventes do bombardeamento de Dresden. E essa parte é contada basicamente por cartas escritas pelo Avô à Thomas, pai de Oskar. E também pelas cartas da Avó ao próprio Oskar. Essas duas vozes trazem, no início do enredo, uma certa confusão, que se desamarra facilmente à medida que lemos e vamos ligando os pontos, montando o quebra-cabeças dessa família tão peculiar. E é aqui onde a poesia de duas vidas desencontradas e vividas entre "Algo" e "Nada" se desenrola entremeada de culpas, saudades [que é o mote principal do livro a meu ver!], amor, esperanças e desesperanças.

"(...)quer saber se eu a amo, isso é tudo que todo mundo quer dos outros, não o amor em si, mas sim o conhecimento de que o amor está presente como pilhas novas na lanterna do kit de emergência no armário do corredor."

"Passei a vida aprendendo a sentir menos.
Cada dia eu sentia menos.
Isso é envelhecer? Ou é algo pior?
Não é possível proteger-se da tristeza sem antes proteger-se da felicidade"

A narrativa não é linear, e o autor utiliza várias possibilidades gráficas para compor e enfatizar momentos da história como fotos, desenhos, diálogos "perdidos", páginas apenas com números, com apenas uma frase ou sem nada. Estas referências visuais ilustram e nos ajudam a mergulhar na busca e vida dessas personagens, que amam tão profundamente, mas têm dificuldade de usar as palavras certas nas horas certas.

O livro pode causar uma certa estranheza por seu ritmo, seu tema e pela variação de emoções que nos provoca, mas é um estranhamento recheado de realidade, porque o autor consegue, habilmente, nos fazer visualizar as etapas que todos nós passamos na tentativa de aceita e saber conviver com a perda e com a falta daqueles que mais amamos!

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto, é, de longe, o meu eleito de 2012!!
Nem vale dizer que vale à pena ser lido, esse, com certeza, DEVE ser lido!!! ♥♥♥♥♥


"Nada é capaz de convencer alguém que não quer ser convencido. Mas há numerosa pistas à disposição de quem deseja acreditar."

"Queria ficar vazia como um jarro virado. Mas eu estava cheia como uma pedra"

"Qual é o propósito de uma mentira que nada protege?"

"Albert Einstein, um de meus heróis, uma vez escreveu: 'Nossa situação é a seguinte. Estamos diante de uma caixa fechada e não podemos abri-la'. (...) a vasta maioria do universo é feita de matéria escura. O equilíbrio frágil depende de coisas que jamais poderemos enxergar, escutar, cheirar, degustar, ou tocar. A própria vida depende delas. O que e real? O que não é real? Talvez essas não sejam as perguntas corretas. Do que a vida depende?"



Livro: Extremamente Alto & Incrivelmente Perto
Autor: Jonathan Safran Foer
Tradução: Daniel Galera
Páginas:392

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