15 de jun. de 2012

Queria construir uma ruína


Um monge descabelado me disse no caminho: “Eu queria construir uma ruína.
Embora eu saiba que ruínas é uma desconstrução.
Minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para
abrigar o abandono

, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma
criança presa num cubículo
O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR.
A palavra amor está quase vaziaNão tem gente dentro dela.
Queria construir uma ruína para salvar a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas; como um lírio pode nascer de um monturo.” E o monge se calou descabelado.
(Manoel de Barros)



Pra mim, a vida é totalmente inconcebível sem poesia!
Olhar pra a vida e não enxergar ou sentir em cada filigrana de suas dobras as poesias é para cegos de alma, o que eu jamais pretendo me tornar. E por isso sou fã inconteste e amo escrever poesia.
Entre os meus poetas preferidos, figura Manoel de Barros, um pantaneiro que ama e desfruta do seu pantanal como jamais ninguém vislumbrou. É um dos principais poetas contemporâneos do Brasil, e se você ainda não conhece nada de sua obra, super indico!

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