9 de out. de 2011

Flor de Maio

by `Princess-of-Shadows




A meia luz do nascente dia
não ditou a alvorada e
a terra tragou-me inteira,
semente de uma quase morte.

N’uma prece interrompida
flores nasceram mortas,
abortadas num esgar...

Vi-me fantoche triste, solitária,
cordas jazendo ao chão,
enjaulando o medo entre os dentes.

Brotavam dos olhos
sereno tardio e a
carne ardia em insidiosa labareda;

em tardios passos, pisotearam a
cavalaria nos estilhaços da alma morta;
fartos cascos deselegantes bailaram,
violentos, e

 só queria que a chuva caisse,
deselegantemente sonora,
entorpecente...

Enquanto nuvens se
desintegravam perfeitas,
levaram-me embora,
marionete sem pulso,

entorpecida de risco,
cravada de penas olhares,
dolorida e úmida de
palavras embriagadas.

O destino é subserviente e cruel...

Encontro as cores encardidas
dos dedos, a saliva pestilenta de
macilenta boca a ciciar em
minha mente,

palavras de lava
cuspidas em meus olhos
ainda ardem e me assustam.

Desequilibrei-me da navalha
e no fio curvo da cimitarra
pairei, pesada e densa,
chumbo grotesco.

Cansaço é meu exílio,
meu destino é vulgar e a
boca lateja preces submissas
por um futuro desperdiçado.

Do alheio gesto,
desisto!
Tudo pode ser pior,

Vivo em fuga,
Tudo pode me machucar
Então paralizo-me!

E só “quero um calor no inverno,
um extravio morno de minha consciência e
depois sem som, um sonho calmo,
um espaço enorme,
como a lua rodando entre as estrelas”*



Patrícia Di Carlo
* Fernando Pessoa




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