12 de set. de 2009

Prateadura




Essa noite não acendi a luz do quarto
A lua convidou-se a dormir comigo...
Dera um lustre de navalha à minha
Pele já tão fria e branca como
Papel a ser escrito.


A luz cinzenta permeara o aposento,
Em surdina, repousando toda líquida
Em minha colcha, prateando o verde do patchwork


Meu pé esquerdo repousava manso
Sentindo a teia que o atara à pedra
Do meu medo; uma âncora
Tênue e eficaz...


Via-me ali, atada aos meus
Tantos anos e com as minhas
Nove vidas quase intactas,
Todas prontas para morrer...


Mas pra tudo há um preço
Alto a se pagar:
Para cada palavra que cuspo
Cada toque que queimo
Para cada mancha de sangue
Que escorro...


E eu me agarro a Ele como
A um crucifixo enquanto a chuva
Quebra as grades da janela e
Lava minhas pálpebras úmidas da luz...






Patrícia Gomes
Imagem: Moon Artifice


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