Sou aérea
meio etérea
vivo imersa
em mundos
que invento
onde danço
sem nexo
solta
como sacerdotisa
casta dos templos de Hera!
Sou matriz...
Seios fartos
prontos a nutrir
o mundo.
Sou matrona portuguesa
corpo de língua
italiana
onde cada gesto
fala mais que a
boca úmida.
Tenho pernas de amazonas
Valkírias
que vão livres
por onde querem ir.
Mas que sempre voltam
pois querem a grama
que fica perdida em
cada rastro que deixei.
Tenho olhos que vejo
estranhos
mas que acredito quando
dizem que são
misteriosos, claros,
calmos e lindos.
Mas tenho certeza de que são
translúcidos,
pois neles me abrigo inteira.
Estou carvalho ancestral....
Raízes profundas cravadas
na terra...
Deixo meus galhos fluírem,
balouçam-se aos ventos que
me beijam.
Mas espero o vendaval que
me arranque de toda
firmeza,
e que espalhe-me
como folhas no outono.
Sou água mansa
que corre tranqüila...
que se delicia com os pingos das
chuvas em minha superfície...
Me moldo aos caminhos que
percorro...
Mas nunca me perco...
mesmo quando desviam
meu leito....
E chegarei ao destino
que me deleguei...
chegarei de manso
ao encontro do meu destino...
mesmo que o mar
neste dia,
esteja bravio...
Patricia Di Carlo
Imagem: Galatea - Salvador Dali
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