15 de mai. de 2009

Olhar Sem Noite



No fim de tarde molhada de sol,
Espíndula, no rádio, grita estrelas
enquanto, sem meu edredom, canto a lua,
e uma coruja piando me encara
e não me dá suas asas...

A garota passa debochada,
molejo dolente de cadeiras fartas,
lábios abundando volúpia
sulcando a terra ainda molhada
da torrente do dia anterior.

Há tamanha beleza no erro
que me conta ter cantado
em vida que, em mim,
algo se agita, como a saia
que ainda ontem era flor,
algodão bruto prestes a ser
colhido debaixo de sol.

Distraída do amor,
em tímida vigília
deixei a preguiça ao meu redor
e cantei o meu olhar de chimia
em doce escorrer, enquanto
teus lábios cântaros queriam
desatentamente me recolher.

Mas ainda assim a garota
gingava esguia diante
do teu mar, enlaçado em nome
em elo, céu salpicado de
poeira de estrelas antigas
e se quer percebeu que o túnel
por maior que fosse a queda,
findava, enfim, no sal de um
norte estranho, árido...

Nos segundos passados
entre um piar e outro da
coruja escondida no outono
do meu quarto, desapeguei-me
da luz certa que imaginei
chegar nas flores que teu olhar
prometeu ao meu , mesmo que

De forma natural, nublei o céu
e dos brigadeiros em neve
rasurei o que era farto sonho

E simplesmente fiz de ti
um simples rei deposto!

Que bamboleie agora a garota,
em meio ao sol do meio dia,
esquecida de tudo, até
que dela se esqueceu, também,
o teu quase atento olhar...



Patrícia Gomes
Imagem: Suzy the Butcher

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