sou aérea, meio etérea,
vivo imersa em mundos
que invento, onde danço
sem nexo, solta
como sacerdotisa casta
dos templos de Hera!
sou matriz de
seios fartos
prontos a nutrir o mundo.
sou matrona portuguesa,
corpo de língua italiana
onde cada gesto fala mais
que a boca úmida.
tenho pernas de amazonas,
valkírias que vão livres
por onde querem ir,
mas que sempre voltam
pois querem a grama
que fica perdida em
cada rastro que deixei.
tenho olhos que vejo
estranhos, no entanto acredito,
quando dizem, que são
misteriosos, claros,
calmos e lindos.
mas tenho certeza de que são
translúcidos, pois neles
abrigo-me inteira.
estou carvalho ancestral: raízes
profundas cravadas na terra.
deixo meus galhos balouçarem-se
aos ventos que me beijam.
mas espero o vendaval que me
arrancará de toda firmeza,
e me espalhará, como folhas
no vasto outono.
sou água mansa
que corre tranquila, e se
delicia com os pingos das
chuvas em minha superfície.
moldo-me aos caminhos que
percorro, mas nunca me perco,
mesmo quando desviam
meu curso e leito.
chegarei ao destino
que me deleguei,
chegarei de manso
mesmo que o mar,
neste dia,
esteja bravio...
Patrícia Di Carlo
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